2.000 km de Toyota Corolla Cross – Dunas, montanhas e estradas bloqueadas

Toyota Corolla Cross é um SUV que vai muito além das adversidades e capaz de surpreender até os consumidores mais exigentes
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10.11.2022 às 12:49 • Atualizado em 14.06.2023
Toyota Corolla Cross é um SUV que vai muito além das adversidades e capaz de surpreender até os consumidores mais exigentes

Reservas nos hotéis, passagem de avião, malas prontas... Nenhuma etapa de preparação para viagens impacta mais um fanático por carros que o aluguel do meio de transporte. Comigo não é diferente, por isso enquanto a família planejava a viagem pelo sul do Brasil, eu analisava qual seria a melhor opção para alugar.

Os requisitos eram: espaço razoável para dois adultos e duas crianças, porta-malas grande para a tonelada de roupas, e conforto para que pudéssemos sobrevier aos quinze dias de viagem. Eu acrescentei mais dois itens nessa lista: 

O carro precisaria ser inédito, para gerar conteúdo, e não podia ser lento. Assim, levei à família a sugestão de reservar um sedan médio, categoria essa representada pelo VW Jetta na locadora escolhida. Minha proposta foi prontamente recusada, pois a família precisava de um SUV. Ainda bem...

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Sendo assim, escolhi a categoria com os maiores SUVs disponíveis, representados pelo Jeep Compass T270. Em uma rápida pesquisa, descobri que a alternativa seria o Caoa Chery Tiggo 7. Bom, qualquer um destes cumpriria os requisitos e me deixaria feliz.

O começo do caos

A viagem começou na cidade de Navegantes, Santa Catarina. Pousamos já tarde da noite, então a programação do dia era pegar o carro e ir para o hotel. Chegando na locadora, filas, cadastros e tudo aquilo... A atendente me entrega uma chave de um Toyota e me deseja boa viagem. Respondo um sonoro “o que é isso?”, e recebo a resposta: “o único carro disponível na sua categoria é o Toyota Corolla Cross...”

Toyota Corolla Cross XR 2022 na cor preto infinito

Eu poderia fazer um seminário, e explicar a ela as razões que me fazem crer que o Corolla Cross não é da mesma categoria que Compass e Tiggo 7... Mas, no fim, ela tinha razão. Afinal o carro entregava o contratado. Não, motor turbo não estava no contrato... Então peguei meu Toyota Corolla Cross XR na cor preto infinito, e levei a família para o hotel.

Apesar de ser menor que o do sedan, o porta-malas acomodou bem as bagagens

Quem nos acompanha sabe que sou purista, gosto de carros com soluções não tão modernas, prefiro câmbio manual e curto receber do carro feedbacks como desníveis na pista, trabalho de suspensão etc. Nenhum dos Toyotas modernos que dirigi me deixou satisfeito. 

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São bons carros, robustos e bem construídos, mas feitos para quem quer conforto e gosta de comandos mais suaves e anestesiados. Então você pode imaginar como estavam minhas expectativas para o SUV com motor 2.0 de 169 cv e 21,4 kgfm, com câmbio CVT...

Quando o que parecia ser ruim, se torna bom

No dia seguinte o destino era o Beto Carrero World, então a viagem foi curta para fazer análises mais profundas. Entretanto já deu para perceber que o câmbio CVT era muito bem acertado. Eu não gosto de CVT, acho terrível a não linearidade entre as RPMs e a velocidade do carro. 

Em alguns modelos, seu pé direito comanda mais o câmbio que o motor. Mas preciso dar meu braço a torcer e dizer: o Corolla Cross tem o segundo melhor câmbio CVT que já dirigi, perdendo somente para o Nissan Pathfinder 2016, que tinha um V6 3.6 de 240 cv. Logo, a briga não é justa.

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O CVT do Corolla não busca sempre o pico de torque ou de potência, e o gerenciamento eletrônico equilibra bem as respostas. Então não me senti dirigindo um liquidificador, onde qualquer toque no acelerador leva a RPM mais altas, deixando por conta do câmbio o trabalho pesado. 

Algumas “trocas de marcha” são feitas no modo D, variando a quantidade dessas trocas de acordo com o quão fundo você pisa. Em outras palavras: se você pisa fundo o motor vai quase no limite de giro, depois “troca”, baixando a RPM e subindo de giro novamente. Em um CVT antigo o motor atingiria o pico, e o câmbio faria o resto.

A bordo do Corolla Cross é possível entender a legião de fãs que a marca arrasta. O carro é muito bem construído. A versão XR é a mais simples, contando com bancos de tecido, chave canivete e somente uma USB para a primeira fileira de bancos. Mesmo assim o banco oferece bons apoios, nos locais certos. 

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O encosto de cabeça foi o que mais me surpreendeu, é possível dirigir com a cabeça apoiada, sem ficar deitado. A tão criticada suspensão traseira por eixo de torção não traz grandes perdas em conforto e desempenho. O freio de estacionamento acionado pelo odiado pedal realmente é pesado, mas não me incomodou. Ok, eu tenho uma Chevrolet Blazer, então não sou parâmetro.

Colocando o Toyota Corolla Cross à prova

A primeira prova de fogo que o Corolla Cross passou foi o acesso às Dunas dos Ingleses, em Florianópolis. Não, não subi as dunas com ele. Mas a estrada de acesso tinha alguns buracos e poças de lama, que eu conscientemente não evitei para sentir o comportamento do carro. O vão livre mais alto te permite andar sem se preocupar tanto em não arrastar o fundo, e a suspensão filtra bem as pancadas dos buracos.

Saindo de Florianópolis, nosso destino era a Serra do Rio do Rastro. A famosa estrada, que liga Bom Jardim da Serra a Lauro Muller, é uma das atrações na Serra Catarinense. Meu objetivo era parar no mirante, e depois descer os quase 1.500 metros de altitude, contornando as 284 curvas. 

Para isso subimos a serra, passando por Alfredo Wagner e Urubici. Nas subidas pude perceber que o motor tem bom torque em baixas rotações. Quando eu não exigia muito do pedal o carro conseguia vencer a estrada entre dois e três mil RPM, com facilidade. 

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Corolla Cross na descida da Serra do Rio do Rastro, no ponto onde a visibilidade era melhor

Pelo site que mostra imagens ao vivo da câmera localizado no mirante pudemos ver que o tempo não estava muito receptivo, com densa neblina. Como a tarde já caminhava para o fim, decidimos dormir no alto da serra, em uma pousada excelente que nos foi indicada por uma placa na estrada. 

A estrada que liga a pousada à SC-390 não é pavimentada e tem muitas pedras, característica da região. Os 5,5 km em subida foram outro desafio ao Corolla Cross. Novamente ele me surpreendeu, primeiro pelo comportamento da suspensão, que recebia as pancadas filtrando, na medida do possível, o impacto para os passageiros, segundo pelo câmbio e pelo controle de tração. 

Todo carro de tração dianteira sofre em subidas com pouca aderência, pois há transferência de peso para o eixo traseiro, deixando as rodas de tração com menos carga. Sabe os vídeos de Jeep Renegade e Fiat Toro Flex sofrendo em rampas? Pois é... Sabendo disso, por diversas vezes parei o Corolla Cross nas subidas para testar o tamanho da vergonha que ele me faria passar em um cenário parecido. Novamente, lançando mão das vantagens da CVT, ele me surpreendeu. 

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Se você pisar pouco no acelerador, o gerenciamento eletrônico mantém o motor em baixas RPM e encurta a relação do câmbio para vencer a subida. Entretanto isso favorece a perda de aderência, o que levaria as rodas a patinar. É aí que entra o controle de tração, que segura a onda das rodas e ajuda o carro a sair da inércia. 

Lógico, o sistema não faz milagre, e se você pisar fundo ele vai patinar e te deixar com aquela cara de cachorro que derrubou panela, enquanto tenta sair da chácara no churrasco da família.

No dia seguinte fiz minha tão sonhada visita à Serra do Rio do Rastro. Infelizmente, o tempo estava idêntico ao dia anterior, e a visibilidade no mirante era de poucos metros. Mesmo assim descemos a fantástica estrada, parando para algumas fotos quando o nevoeiro permitia. 

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De volta à BR-101, era a hora de testar o comportamento do carro em uma estrada longa e plana. Ativei o piloto automático adaptativo e o assistente de permanência em faixa, selecionei 110 km/h como velocidade máxima, encostei no banco e curti.

Com o piloto automático adaptativo você decide a velocidade máxima que o carro vai atingir, e ele anda de acordo com o trânsito à frente. Pista livre? Vamos na velocidade máxima. Trânsito? Ele acompanha o carro à frente, desde que esse ande a mais de 40 km/h. 

Nessa velocidade o sistema é desligado e você precisa assumir os pedais. Há um botão no volante do Corolla Cross que te permite selecionar entre os três níveis de distância para o carro da frente.

VW Gol, Voyage, Polo e Virtus matam motor 1.6. Saveiro vira só 16V 

O assistente de permanência em faixa lê a pintura que separa as faixas de rolamento, fazendo pequenas correções no volante e levando o carro novamente ao centro da faixa. O sistema é capaz inclusive de contornar curvas suaves sem o auxílio do motorista. 

Não chega a ser um sistema semiautônomo, nem tem essa pretensão. Após alguns segundos sem a mão no volante um alarme é emitido e uma mensagem no painel te pede para segurar o volante, e te lembra que você é que tem CNH, o carro não.

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O câmbio CVT

Você já deve ter ouvido que os câmbios tipo CVT têm “infinitas marchas”. Sim, isso é verdade do ponto de vista matemático. Enquanto um câmbio manual, automático convencional ou automatizado tem uma relação de transmissão fixa para cada marcha, o CVT tem uma faixa de relações. 

É como se um CVT pudesse variar entre a 1ª e a última marchas, parando em qualquer posição no meio. Com isso, é possível ter uma 1ª marcha mais curta que em um câmbio de engrenagens, te ajudando a vencer subidas com mais facilidade, e uma última marcha mais longa, te permitindo viajar em velocidades mais altas com RPM mais baixa.

Isso pode ser percebido no Corolla Cross, que consegue manter 120 km/h no plano com o motor em torno de 2000 RPM. Com alguma subida, o CVT encurta a relação e a RPM sobe. 

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Afinal o 2.0 tem bom torque em baixa RPM, mas ainda é um motor multiválvulas aspirado, não tendo assim aquele fôlego de turbo para levar o carro de 10ª marcha em retomadas. Por falar em marchas, no modo sequencial o CVT do Corolla Cross emula 10 marchas. 

Minha opinião? É muita marcha para se trocar em um carro sem apelo esportivo, principalmente quando não há a possibilidade de trocas por borboletas atrás do volante, como é o caso da versão XR. Eu só usei o modo sequencial em descidas, para aproveitar melhor o freio motor. Em qualquer outro cenário eu deixava o bom CVT decidir por mim.

Mais um pouco de estrada

No caminho para Gramado – RS, outra prova de fogo: subimos a serra entre Praia Grande – SC e Cambará do Sul – RS, que também não é pavimentada. A estrada é bem acidentada, com muitas pedras, e em alguns trechos a largura permite passagem de somente um carro por vez. 

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Novamente o carro foi bem exigido, e tive a mesma percepção das últimas experiências off road. Lembrando: não era trilha. Havia sedans e hatches passando por ela. Mas eles sofriam muito mais do que eu...

Durante nossa estadia no Rio Grande do Sul o carro foi pouco exigido. As maiores aventuras eram estacionar o Corolla Cross no entorno da Av. Borges de Medeiros, no centro de Gramado, fazendo baliza próximo a Porsches e Lamborghinis... 

A versão XR tem câmera e sensores de ré, mas as linhas projetadas na central multimídia não mostram o trajeto ao se virar o volante, recurso esse comum em carros bem mais simples e baratos que o Corolla Cross. Como disse anteriormente, eu tenho uma Blazer... Estacionar o Corolla Cross é mole, mas acho que é um recurso que a maioria sentiria falta.

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Estrada no fim das eleições

Peço perdão para a escolha ruim de palavras, mas o fim da nossa viagem teve início dia 31 de outubro, dia seguinte ao segundo turno das eleições. Como você deve ter visto, a região sul do Brasil foi onde ocorreu o maior número de manifestações de descontentes com o resultado da eleição, com diversos pontos de bloqueios nas estradas. 

O caminho mais curto entre Gramado e Navegantes é a BR-101, e em condições normais a viagem duraria cerca de cinco horas e meia.

Como na segunda, dia 31, pela manhã já existiam pelo menos quatro pontos de bloqueio na BR-101 no nosso trajeto, decidimos seguir viagem pela serra onde, até então, não havia relatos de paralisações. 

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Assim configurei o GPS para nos mostrar o caminho de Gramado a São Joaquim – SC, localizada no famoso Vale da Neve. Nosso caminho era a RS-110, que não é pavimentada a partir de Bom Jesus – RS. Novamente tivemos que encarar um off road, dessa vez para tentar chegar no aeroporto a tempo de pegar o voo de volta, que saía de Navegantes no dia seguinte, às 16:00.

Quando entramos no trecho não pavimentado a próxima instrução do GPS estava a 75 km de distância. Ainda não sabíamos, mas toda essa distância seria percorrida em vias praticamente de pedra, onde o Corolla Cross novamente mostrou boa capacidade de vencer buracos sem maltratar os tripulantes. 

Minha principal preocupação era não acertar as pedras pontudas, que certamente danificariam os pneus. Eu não estava nem um pouco a fim de trocar pneu na chuva, com temperatura de 9 °C...

Barragem Rio dos Touros no período de cheia. Fonte: Google

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Passamos pela famosa Barragem do Rio dos Touros, onde a estrada corta o rio após o vertedouro da barragem. Na época de cheia, a travessia fica praticamente toda encoberta, e os carros transitam por dentro da passarela de concreto submersa, usando os piquetes como sinalizadores para não cair no rio. 

Quando passamos o trecho submerso era bem pequeno, certa de quinze metros. Eu já tive minhas aventuras leves no mundo off road, mas meu tempo de abstinência desse mundo já serviu como alerta, me avisando que algo pior poderia surgir... E surgiu.

Depois de 45 km de pedras, lama, subidas e descidas, após uma leve curva a direita chegamos à divisa que separa Rio Grande do Sul de Santa Catarina: o Rio Pelotas. E sobre ele uma ponte, ou o que restava de uma: a Ponte Goiabeiras. Não sei se consigo com palavras descrever o baque da primeira visão da ponte... 

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Se você não conhece, pode ser que as fotos te causem a mesma estranheza. Basicamente: a ponte caiu. A ponte, ou o que resta dela, tem uns 120 metros de comprimento, e diversas partes simplesmente faltando. A pista de concreto, provavelmente levada pelas águas nos períodos de cheia, foi substituída por toras de madeira, pranchões de aço e tábuas. 

Ponte Goiabeiras, vista do lado de Santa Catarina

Após alguns minutos confabulando se manobraríamos e percorreríamos todo o caminho de volta decidi descer e analisar a situação. Nesse momento encostou na ponte, do lado de Santa Catarina, um Jeep Commander, e o motorista também desceu. Subi á pé na ponte e liguei o modo engenheiro, analisando as amarrações improvisadas com cabos de aço. 

Confesso a vocês: a situação estava feia, mas firme. Havia marcas de pneus duplos, como em caminhões, e os trechos improvisados estavam bem presos, a altura da ponte até o rio era de mais ou menos dois metros, e o rio não tinha mais que um metro e meio de profundidade. Quando cheguei do outro lado o motorista do Commander me recebeu com um “Pois é, né...”

Grades de aço e pranchões de madeira substituem a pista de concreto

Me disse que sua esposa estava muito nervosa, e que, assim como eu, também carregava duas crianças no carro. Descobri que ele também era engenheiro, e que também estava fugindo dos bloqueios da BR-101, em direção a Gramado. 

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Segundo ele, desde Curitiba já havia passado por três bloqueios, onde teve que conversar com os manifestantes e explicar que estava em viagem, com crianças. Nos três ele teve sucesso, e os manifestantes o deixaram passar pelo canteiro da BR-101. Mas ao chegar no bloqueio próximo a Tubarão – SC, não teve jeito. Foi quando decidiu subir a serra.

Após as apresentações, decidimos analisar a ponte juntos, e ele teve a mesma opinião que eu. Com dois pareceres favoráveis à loucura, sugeri que jogássemos par ou ímpar, para decidir quem ia primeiro. “Vai lá que eu te ajudo” foi a resposta que recebi... Ok então!

A travessia

Voltei para o carro, conversei com minha esposa e resolvemos atravessar todos dentro do carro, pois o piso estava molhado e os vãos na pista da ponte poderiam causar escorregões, quedas e lesões sérias. 

Então soltamos os cintos, abrimos os vidros e seguimos. O Corolla Cross não conseguiu subir o primeiro trecho da ponte, pois a pista ficava a uns trinta centímetros de altura, com degraus de madeira. Tive que dar ré e vir a uns 30 km/h, no embalo. Imagina a felicidade da galera... 

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Depois de subir na ponte a preocupação era manter as rodas sobre as toras de madeira, com a ajuda do amigo do Commander, que foi na frente guiando. Ponte atravessada, retribuí o favor guiando o Commander, e seguimos viagem, com a certeza de que seria o pico de tensão da viagem. Retomando o percurso, eu só imaginava o que teria acontecido se eu tivesse escolhido alugar um sedan...

Pouco depois de São Joaquim, já em Santa Catarina, paramos para almoçar no restaurante do Snow Valley, que infelizmente sofreu um incêndio somente seis dias depois. O acidente, que ocorreu na noite do dia 6 de novembro, destruiu as instalações do restaurante e vitimou o labrador Sam, mascote do Snow Valley que brincou com minhas filhas durante nossa breve visita.

Corolla Cross em frente ao Snow Valley

A noite já se aproximava, então acabamos dormindo em Urubici, onde a previsão do tempo era de 0 °C para a madrugada, com possibilidade de neve. Não acreditamos muito, uma vez que é primavera. Até cogitamos adiar o voo e estender a estadia lá, mas não conseguimos contato com a companhia aérea.

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Assim, na manhã seguinte, partimos cedo com a expectativa de descer a serra pelo caminho que fizemos no início da viagem. Entretanto, em Alfredo Wagner, um bloqueio estava impedindo a passagem de todos, com exceção de veículos de serviços de urgência.

Última noite na serra

Mais bloqueios pelo caminho

Estacionei e fui até as barricadas, conversar com os manifestantes e tentar a estratégia usada pelo amigo do Commander. Me disseram que havia outros três bloqueios naquela estrada até a BR-101, e pelo menos outros quatro na BR até Navegantes. “Se eu te deixar passar, você fica preso no próximo” foi o que ouvi. Depois conversei por um tempo com outros motoristas que estavam reunidos em uma borracharia, e me sugeriram dar a volta por Blumenau.

Computador de bordo marcando 9 °C no alto da serra, e o excelente consumo de 11 km/l

Decidimos acatar a dica, e partimos pela SC-350 e depois pela BR-470. Em Ituporanga, mais um bloqueio. Este bem maior que o de Alfredo Wagner. Havia uma colheitadeira estacionada no meio da estrada, na saída da cidade. Além de vários tratores, caminhões, carros etc. 

Muitas famílias passeavam e se reuniam por ali, para um desavisado o cenário pareceria uma feira agropecuária no meio da estrada. Parei o carro na estrada, e um dos manifestantes veio conversar. 

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Contei nossa história, e perguntei se poderíamos passar para chegar em Blumenau. Ele me perguntou se tínhamos parentes lá, respondi que não, mas que Blumenau tinha muito mais hotéis que Ituporanga. Ele poderia se ofender, mas concordou comigo. 

Disse que nos deixaria passar, mas que provavelmente não conseguiríamos passar no bloqueio de Rio do Sul, próxima cidade. Então passamos por entre os tratores e piquetes, e seguimos viagem. 

Bloqueio em Ituporanga

Rio do Sul é uma cidade maior, com várias pontes que atravessam o rio Itajaí do Sul. Como o bloqueio estava somente na BR-470, em frente a uma famosa loja de departamentos que acredito que não preciso citar, o GPS nos guiou pelas vias da cidade e conseguimos dar a volta. Ao chegar na SC foi possível ver o bloqueio, que contava com guindastes içando uma enorme bandeira do Brasil.

No caminho ainda pegamos bloqueios em Apiúna, este pequeno, onde os manifestantes deixavam todos os veículos de passeio atravessar sem perguntas, e Ascurra, já um bloqueio maior, na estrada de uma ponte, onde os manifestantes controlavam o tráfego. Também passamos sem problemas. Em Indaial havia mais um bloqueio na BR-470. Este não chegamos a ver, pois o GPS recomendou o acesso a uma via de terra, do outro lado do rio. 

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Permanecemos nessa via até chegarmos a Blumenau, onde a estrada estava completamente bloqueada. Precisamos atravessar a cidade, passando na frente da Vila Germânica. 

Enquanto estávamos em Blumenau, depois de muitas ligações e ajuda do meu sogro, que foi ao aeroporto de Brasília falar diretamente com a companhia aérea, conseguimos adiar o voo para o dia seguinte, 2 de novembro. 

O adiamento nos deixou mais tranquilos, mesmo assim decidimos continuar para Navegantes, para pernoitar o mais próximo possível do aeroporto. Perto de Ilhota, já depois de descer a serra, decidimos parar para almoçar. 

O posto de combustível já estava com várias bombas fechadas, devido a falta de gasolina e etanol. Lá, em meio a uma reunião de motoristas desesperados buscando um caminho alternativo, um senhor iluminado me disse que havia pelo menos 3 bloqueios entre o local que estávamos e a entrada de Navegantes, mas ele conhecia uma estrada que margeia o rio Itajaí-açu até o centro de Navegantes.

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Instruções dadas, seguimos pela estrada, novamente não pavimentada. Em um determinado momento nos perdemos, e acabamos atravessando uma plantação de arroz com o Corolla Cross. 

Sem querer, pegamos o atalho do atalho. Era impossível ver o caminho, então me guiei pelo mato mais alto, que batia quase no capô do Corolla. Algumas centenas de metros depois conseguimos encontrar a estradinha, e seguimos por aproximadamente 40 minutos, até avistar os diversos pontos de incêndio em barricadas, nos bloqueios da BR-101 e na BR-470. 

Ainda na estrada de terra, passamos por baixo da BR-101 na altura da entrada de Navegantes, e poucos metros depois encontramos um bloqueio. Era o fim do atalho.

Ponto onde a estrada de terra passa sob a BR-101

Com a BR-470 e a estradinha de terra completamente bloqueadas, precisamos acessar a BR-101, passando na contramão da alça de acesso à BR-470, seguindo em direção ao Beto Carrero World. 

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De lá, conseguimos chegar a Navegantes pelas ruas paralelas á praia. Pernoitamos em uma pousada a 3 km do aeroporto, para evitar problemas no dia seguinte e conseguir pegar o voo para Brasília sem problemas.

Veredicto: O Toyota Corolla Cross é surpreendente 

No total foram dezesseis dias e pouco mais de dois mil km de jornada, passando por trânsito urbano, BRs, dunas de areia, estradas de pedra, pontes remendadas... Acredito ter uma boa munição para analisar o Corolla Cross, me livrando de todo preconceito que eu tinha contra o carro.

O Corolla Cross é um Toyota: muito bem construído, confortável e fácil de guiar. Com isso, os comandos são anestesiados e suaves. Não é carro para quem gosta de sentir a pista, como eu. Mas ouso dizer que é o Toyota menos anestesiado que já dirigi. 

O motor leva o carro muito bem, e por mais que me doa assumir isso, o CVT salvou o conjunto. Se o carro tivesse um câmbio automático convencional de seis ou sete marchas ele seria mais lento e beberrão. O consumo médio para todo o percurso foi de 11,0 km/l, marca excelente para um carro médio com motor 2.0 aspirado e câmbio automático.

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A versão XR é atraente, por se tratar de um carro médio na faixa de preço dos compactos mais completos. Com o mesmo orçamento do  VW T-Cross 250 TSI ou Fiat Fastback 1.3, o Corolla Cross XR oferece algo a mais, entregando menos mimos. Senti falta da partida no botão, dos bancos de couro e de mais portas USB, mas a proposta do carro é bem coerente.

De saldo da parte automobilística da viagem, posso dizer que entendo um pouco melhor quem diz que não troca Toyota por nada. É fácil se acostumar ao modo mais anestesiado do carro, e mais difícil voltar a realidade depois. 

Fora a fama de robustez e revenda, que não entraram na análise. Isto posto, assumo o compromisso de não mais julgar quem compra Corolla Cross. Ainda não digo que compraria, mas se a Toyota lançar uma versão com câmbio manual... Quem sabe...

Este texto contém análises e opiniões pessoais do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Mobiauto. 

Antonio Frauches, engenheiro mecânico e entusiasta do mundo automotivo.

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