Como a Caoa Chery abriu espaço para que BYD e GWM fizessem sucesso no Brasil

Empresa nacional validou e expandiu a presença de veículos chineses no mercado
Renan Rodrigues
Por
29.04.2024 às 20:45
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Empresa nacional validou e expandiu a presença de veículos chineses no mercado

Atualmente, BYD e GWM são as grandes expoentes das marcas chinesas no Brasil, mas nem sempre foi assim. Até 2017, os carros importados do país asiático eram vistos com desconfiança pelo público brasileiro. A JAC teve um começo promissor com o J3 e família, mas questões fiscais, promessas não cumpridas e decisões controversas, tornaram o cenário ainda pior para as chinesas.

A Chery tentava sobreviver no Brasil com a receita clássica: carros baratos, com bom nível de equipamento e produção local. No entanto, tanto JAC como Chery acumulavam por volta de 3.800 emplacamentos cada no acumulado do ano de 2017.

No mesmo ano de 2017, a Caoa comprou 50% da operação da Chery no Brasil, criando a Caoa Chery e mudando radicalmente a história da marca no país. A começar pela decisão de abandonar os carros mais baratos.

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Com isso, os Chery QQ e Cielo, hatch e sedan, saíram de linha. O Tiggo 2 foi o remanescente e teve até uma profunda reestilização para criar o Tiggo 3x, isso já em 2021, mas que durou apenas até o começo de 2022.

A ideia era apostar em SUVs, mas ainda manter a proposta de custo-benefício, ou seja, oferecer um veículo normalmente mais equipado que os rivais por um preço menor. A estratégia deu certo. Em 2018, ainda com resultados tímidos, foram 8.639 vendas, mais do que o dobro do ano anterior.

Ainda havia certa desconfiança com os produtos, uma vez que o Caoa Chery Tiggo 5x era equipado com um câmbio automatizado de dupla embreagem da mesma fornecedora do problemático Powershift.

A resposta à estratégia veio nos anos seguintes. Em 2019, 20.182 emplacamentos e décima segunda posição no ranking de marcas mais vendidas do Brasil. Um ano depois, mesmo com a pandemia, a Caoa conseguiu manter o volume: foram 20.089 - e uma posição acima no patamar de vendas.

Em 2021, ainda sob a pandemia de Covid-19, a grande surpresa e o melhor resultado até hoje da marca: 39.747 vendas – sendo 2,55% de participação no mercado e posicionamento acima das francesas Peugeot e Citroën, cravando o décimo lugar entre as mais vendidas do mercado local.

Em 2022, a marca sofreu uma pequena queda, registrando 35.035 emplacamentos e 2,22% de participação, ficando atrás da Peugeot, que recuperou a décima posição.

Estratégia continua

A estratégia de apostar em SUVs continua, além da agressividade no preço. Prova disso é o Tiggo 7 Sport, anunciado por R$ 134.990, praticamente o preço de um SUV de entrada, como Fiat Pulse e Renault Kardian.

O resultado foi imediato. Até o fechamento dessa matéria, considerando os números de venda até o dia 28 de abril, foram 2.772 emplacamentos do SUV médio. É apenas 500 unidades a menos que o Toyota Corolla Cross, por exemplo.

Pós-venda e fama da Hyundai

Auxiliaram no crescimento da Caoa Chery a vasta rede de concessionários com o nome já famoso. A Caoa sempre foi bem-vista pelos consumidores, especialmente da Ford, com quem mantém parceria há muitos anos, mas não há como esquecer da Hyundai.

Outra parceria duradoura, que inclusive teve novos capítulos anunciados esse ano, é com a marca sul coreana. A Caoa foi basicamente responsável por credibilizar a Hyundai em solo nacional. Tendo em vista que os primeiros importados pela empresa oriental eram vistos com desconfiança.

Além da rede de concessionários, a Caoa passou a fabricar alguns modelos da marca no Brasil. O de maior sucesso foi o Tucson, que tornou a montadora desejada e abriu caminho para a Hyundai construir uma fábrica e criar um projeto exclusivo para o Brasil, o HB20. O sucesso foi tamanho que o hatch chegou a liderar as vendas dos carros de passeio.

Outras marcas

Com o sucesso da Chery sob administração da Caoa, outras marcas cresceram os olhos para o mercado brasileiro. A BYD, que já atuava aqui no Brasil com ônibus elétricos, passou a importar seus carros e assumiu a fábrica da Ford, em Camaçari, na Bahia.

A BYD estuda a chegada de outra marca por aqui, a Yamgwang, responsável pela criação de supercarros, como o SUV U8.

A GWM não ficou para trás e, depois de lançar o Haval H6, trouxe ao Brasil o Ora 03, justamente para concorrer com o BYD Dolphin, maior sucesso da rival. A marca comprou a fábrica da Mercedes-Benz em Iracemápolis, no interior de São Paulo, e promete produção nacional, bem como o lançamento da Poer, uma picape média híbrida plug-in, além do SUV, Tank 400.

Vale lembrar que as marcas chinesas trabalham com submarcas no oriente. Portanto, Haval e Ora são marcas da GWM, bem como Poer e Tank, que poderão, no futuro, produzir outros modelos no Brasil. É o mesmo caso da Wey, que deverá chegar ao Brasil com o SUV Coffe 01.

A própria Chery, que é sócia da Caoa Chery, já que ainda detém 50% da operação, prepara a chegada das marcas Omoda e Jaecoo, que terão SUVs como o Omoda C5 e E5, além do Jaecoo J8.

A Zeekr, que é um braço de luxo da Volvo, que é controlada pelos chineses da Geely, também está prestes a desembarcar no Brasil e o primeiro modelo será o 001.

A chegada desenfreada de marcas chinesas relembra o começo da operação da Caoa Chery no Brasil. Afinal, foi a parceria sino-brasileira que aproximou os brasileiros dos carros do país oriental, e ensinou as novas fabricantes que não é necessário oferecer carros básicos e baratos para fazer sucesso no Brasil.

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