Stellantis e GM, as líderes da guerra etanol vs carro elétrico no Brasil

As duas maiores fabricantes instaladas no país deixaram claras suas posições antagônicas no processo de eletrificação local. Qual delas se dará melhor?
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27.04.2023 às 11:00 • Atualizado em 29.05.2024
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As duas maiores fabricantes instaladas no país deixaram claras suas posições antagônicas no processo de eletrificação local. Qual delas se dará melhor?

Semanas atrás, o presidente da Stellantis para a América do Sul, Antonio Filosa, concedeu entrevista coletiva a jornalistas para fincar a bandeira da empresa na defesa do uso do etanol como alternativa regional ao carro elétrico movido a baterias.

A fabricante mostrou, inclusive, números de testes que comprovariam que um Jeep Renegade movido a combustível E100 (etanol puro) polui menos do que um elétrico recarregado com energia proveniente de usinas a carvão, muito comuns na Europa.

“Alguns concorrentes podem pensar diferente e vão tentar defender seus interesses, mas nós consideramos já ter uma solução pronta para uso e muito mais eficiente para nossa realidade de mercado”, defendeu o chefão da maior fabricante automotiva em atuação no país.

No radar da Stellantis estarão modelos híbridos leves, híbridos plenos, híbridos plug-in (todos flex) e até um motor turbo de alta eficiência movido apenas a etanol, cujos possíveis segredos eu explico neste outro artigo. Os elétricos a bateria entrarão na equação como uma espécie de coadjuvantes de luxo.

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Filosa não deu nomes aos bois, obviamente, mas estava claro que seu recado era para a vice-líder de mercado, GM (General Motors), que já declarou que não apostará em modelos híbridos. Em vez disso, fará a ousada transição direta dos automóveis a combustão para os totalmente elétricos.

Nesta semana, foi a vez de o presidente da GM na América do Sul, Santiago Chamorro, receber jornalistas para anunciar que a engenharia nacional da empresa já está se preparando para atuar em sinergia global no desenvolvimento de elétricos como o novo Blazer EV, que será lançado no Brasil ainda este ano.

Mais do que isso, Chamorro declarou com todas as letras que a fabricante americana pretende ser a primeira a “nacionalizar a produção” de veículos elétricos no Brasil, e que isso “não acontecerá em um futuro muito distante”. A marca enxerga Brasil e Chile, em específico, como polos importantes de extração de matérias-primas e produção de baterias e veículos elétricos.

É uma excelente notícia, pois essa transição direta dos automóveis convencionais a combustão para os elétricos poderia significar uma simples saída da GM enquanto fabricante local, do mesmo modo que a Ford fez em 2021. Pelo visto, não será o caso.

Afinal, se Chamorro disse o que disse, de modo tão explícito, é porque as negociações para um plano de investimentos nesse sentido junto à matriz já se encontram em estágio avançado. Isso se já não estiver consolidado, carecendo apenas de minúcias para ser anunciado, contemplando possivelmente a década de 2030.

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Ou seja, enquanto a Stellantis vai pressionar o governo e o mercado para estimular o aumento da aposta no etanol – que, segundo Filosa, não é usado por quase metade dos brasileiros por questões puramente ideológicas –, a GM seguirá um caminho totalmente diferente e defenderá com unhas e dentes os elétricos a bateria.

Ao lado da primeira estarão Volkswagen, Toyota e GWM, outras fabricantes importantes no Brasil que também já estão investindo nos motores híbridos flex. Talvez Nissan e Renault, embora estas se mostrem ainda perdidas quanto aos seus interesses para um futuro em médio e longo prazo.

Já a segunda deve ter como grande aliada a Honda, com quem já firmou parceria global para o desenvolvimento de compactos elétricos de baixo custo – e que, portanto, pode ser beneficiária direta de uma possível produção local desses produtos.

Qual das duas se dará melhor? Qual dessas estratégias se mostrará a mais acertada? Essas são as perguntas não de milhões, mas de bilhões de reais, com “B” de bola. Ou melhor, de Brasil. Uma coisa é certa: esta singela guerra de gigantes vai ditar peremptoriamente o futuro de toda a indústria automobilística nacional a partir de... agora!


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