Ela teve VW Gol GTS roubado, encontrou depenado e iniciou reforma da vida
Carros esportivos causam furor em entusiastas. Na década de 1990, não era diferente, e as marcas instaladas aqui promoveram uma rivalidade interessante com seus modelos desse tipo, com VW Gol GTS, Ford Escort XR3, Kadett GSi e Uno R.
O artigo de hoje conta a relação de uma amante por carros, que escolheu um Volkswagen Gol GTS preto Onix 1988 para ser seu companheiro do dia a dia. Desde criança, Caroline Furatore Ganho é apaixonada por carros e nunca escondeu isso de ninguém. Enquanto meninas de sua idade colecionavam bonecas e liam as revistinhas teen, a Carol gostava de acompanhar seu pai em oficinas e colecionava amigos.
Em uma sociedade com preconceitos e muitos tabus, até então ela se privava de alimentar essa paixão, e não contava para muitos sobre ela com medo de ser taxada como “muito masculina” - e olha que mesmo assim já questionaram sua sexualidade. Mas não deixou de levar essa relação adiante, tanto que virou até profissão.
Aos 15 anos, incentivada por um amigo, passou a investir em seu sonho. O primeiro passo foi trabalhar no meio automotivo. Um ano depois, ingressou em uma agência de design e logo passou no vestibular para estudar desenho industrial.
Tempos depois, Carol se inscreveu em um concurso de design promovido pela Volkswagen do Brasil. Eram 6 meses de aulas, que apertaram sua rotina praticamente tirando sua vida social, mas que eram motivados pelo sonho de trabalhar na VW, prêmio que era concedido ao ganhador do concurso. E a recompensa logo viria com a aprovação para a etapa final.
Um dos jurados era o Luiz Veiga, renomado designer do grupo Volkswagen e responsável por vários projetos conhecidos em nosso país, como os facelifts das linhas Gol (incluindo todo o projeto da segunda geração), criação do VW Fox, VW Polo nacional entre modelos e séries especiais. Carol não chegou a vencer o concurso, mas foi a primeira mulher a chegar na final dele.
Chegou a se inscrever novamente no concurso, mas abandonou este sonho para concluir seus estudos, e logo que se formou, foi galgando outros degraus na empresa em que trabalha até hoje, prestando inclusive serviços para a Volkswagen.
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A chegada do Gol GTS
Mas foi em 2010 que a Carol começou a procurar um carro para comprar, e não era qualquer carro. Desde sempre, ela dizia aos quatro ventos que seu carro predileto era um Gol quadrado, sim, o de primeira geração.
O modelo escolhido não era um qualquer, ele tinha sobrenome: GTS. Ela passou a procurar um com carroceria na cor preta ou cinza, e que preferencialmente tivesse os bancos em degradê cinza.
Lançado no final de 1986 como modelo 1987, o Gol GTS substituía o Gol GT. A Volkswagen reformulou toda a linha para fugir de um plano econômico bizarro do governo Sarney, que congelava os preços de todos os produtos existentes até então, impossibilitando o reajuste de preços. Para reajustar e minimizar as perdas inflacionárias, os produtos foram renomeados, sendo assim considerados novos.
Mas o Gol GTS não trazia apenas um novo nome. Ele ganhava linhas mais modernas e imponentes com capô mais baixo, faróis retangulares, faróis de milha e de neblina, para-choques envolventes, saias laterais, novas rodas de liga leve, aerofólio traseiro, além de um conjunto de lanternas maiores e com luz de neblina integrados.
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Com o motor AP-800 e o famoso comando de válvulas 49G, levava o puro sangue de 0 a 100km/h em 10,61 segundos com velocidade máxima de 170 km/h - marca excelente para um tijolinho. A usina rendia bons 99 cv ABNT declarados a 5600 rpm e 14,9kgfm de torque a 3.600 rpm, era prazeroso de dirigir no trânsito e ao mesmo tempo arisco quando solicitado pelo pé direito.
Sua estabilidade era considerada pela revista Quatro Rodas como invejável para seu tempo, graças a um acerto de suspensão firme e pneus 185-60R14.
Sabe-se que a Volkswagen, para aproveitar os descontos de IPI da regra da época, ocultava sua potência e testes em dinamômetro revelavam 106 cv deste poderoso motor, o que se faz entender o porquê é considerado até hoje um dos melhores motores nacionais.
No final de 1990 recebeu um novo visual, onde foi apresentada a linha 1991 e ficou ainda mais bonito, acompanhando sempre as alterações estilísticas do seu irmão GTi. A linha GTS foi descontinuada em meados de 1994, quando a VW apresentou a nova geração do Gol.
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Voltando ao GTS da Carol...
A procura de Carol se estendeu por longos 3 anos, e as buscas variavam entre R$ 11.000,00 e R$ 15.000,00, o que hoje equivale a R$ 22.398,98 e R$ 30.544,06, respectivamente, corrigidos pelo INPC/IBGE. A grande dificuldade era realmente encontrar uma unidade preservada para investir seu dinheiro.
Na mesma época, ela ajudava seus amigos a montar motores turbo nos finais de semana na Ataque Motors, e cansada de tanto procurar, além de frustrada, tomou a decisão de comprar um VW Gol G3 2001 cinza já mexido, com motor 1.8 turbo.
Com o processo de financiamento em andamento, eis que uma resposta inesperada em um fórum de Gol quadrado sobre a venda de um Gol GTS foi dada, mesmo com 6 meses de atraso.
O exemplar Preto Onix com ótima aparência, lata lisa, bancos originais vermelhos, turbo com suspensão de rosca rebaixado ainda estava disponível à venda, e apesar de um preço bastante salgado à época - R$ 17.000,00, equivalentes hoje a R$ 49.604,40 -, Carol fez o possível para comprar o carro.
Com dois empréstimos realizados e uma dívida por pelo menos 2 anos, o carro foi adquirido por telefone, e despachado do Espírito Santo para São Paulo via guincho, com prazo de uma semana para entrega. O veículo foi entregue quase 1 mês depois, com indignação de sua mãe e muito receio por parte da Carol em ter sido roubada.
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Assim que o carro finalmente chegou, se juntou com seus amigos e foram buscar no pátio em Santo André. Com o tanque na reserva, muita chuva, motor turbo e uma suspensão baixa, o dia foi de fortes emoções. Afinal, o combustível acabou em poucos metros, rendendo uma saga para reabastecê-lo, além de uma multa por falta de combustível.
Mas não foram só emoções ruins, pois depois de abastecido, seu amigo Leandro questionou se podia ligar o ar-condicionado, e naquele modelo, a Carol entendeu que finalmente o carro era dela, caindo em lágrimas.
Gol roubado e restauração
Passados os dias, foi com uma amiga comprar bijuteria e ao regressar, já na porta de casa, foi assaltada, tendo seu precioso GTS roubado. Corajosa e afim de evitar o roubo, lutou com o ladrão – nada indicado para situações semelhantes -, e mesmo assim levaram seu xodó.
Já na delegacia para abrir BO, seus amigos acionaram também as redes sociais procurando o carro, e na página “Sangue AP do Facebook”, seu post teve 6.000 compartilhamentos em apenas 1 hora.
A divulgação deu resultado e no dia seguinte, começaram as ligações sobre o paradeiro do carro. Disseram ainda que o GTS foi visto conduzido por homens, possivelmente os bandidos, e que estavam de “rolê”.
Eis que seu amigo Leandro, o mesmo que buscou o carro quando Carol comprou, ligou no dia seguinte falando que o carro estava quase sem nada, parcialmente desmontado. E era verdade: roubaram as rodas, bancos, vários acessórios e acabamentos, restando a carroceria, painel, volante e o motor, ainda intacto.
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Carol foi até seu carro, juntamente com amigos e as rodas de ferro na mão, emprestadas de um Santana, para levar seu carro para casa.
Depois disso, já em casa, Carol passava direto na garagem para não olhar para o carro, que permaneceu por ali por um ano inteiro em cavaletes.
Com rodas de ferro, Carol usou por muito tempo um banco esportivo emprestado, e depois comprou 2 bancos Recaro de um Kadett Turim, em péssimo estado, e tornou a usar o carro para passeios e mercado, conforme mostra a foto dela e de sua mãe sentada no assoalho após fazer compras.
Convidada para participar do programa “Vida Automotiva” do Discovery Turbo, ela não perderia a oportunidade de contar a história de seu quadradinho, e tão menos de reavivá-lo como ele merecia.
Com apenas duas semanas para a gravação do programa, o Gol voltou a seus dias de glória. Ganhou novas rodas, no mesmo estilo das originais, porém em aro 15, novos bancos em padrão de acabamento impressionante, além dos demais detalhes necessários para que o carro aparecesse bem no vídeo.
No dia da gravação, mais um percalço quase impediu que o carro chegasse ao local combinado, mas usando seus conhecimentos, determinação e uma ferramenta comprada por R$ 2,99 em um posto, o vazamento de combustível foi arrumado e a gravação foi feita.
Vale lembrar que, no dia do programa, foram gastos três tanques de etanol. Acho que foi divertido não?! O programa você assiste aqui.
Passado o programa, Carol ficou conhecida nacionalmente, e veio a oportunidade onde ela realizou seu maior sonho: participar do evento Arrancada para Mulheres e pilotar no autódromo de Interlagos, local onde anos antes fazia freelance como fiscal de pista.
Com o Gol turbo raiz, ou seja, carburado e com uma suspensão de 13 anos de idade, de 5 puxadas, Carol ganhou 4, e ainda foi top 3 de melhor reação na pista.
A paixão por seu GTS é maior que as dificuldades encontradas, tanto para compra, quanto para manutenção, quanto para tirar as fotos exclusivas para esta matéria.
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Eu explico: após a sessão de fotos, a Carol fez “arte” e a 300 metros de casa, depois de uma “puxada”, a pressão foi muita e estourou a mangueira do óleo e ela “lavou” de óleo a rua de casa, conseguindo estacionar em sua garagem com o motor quase seco. Mas fique tranquilo, isso já foi arrumado e em breve, o GTS conhecido como “Monstro”, trará mais alegrias para sua apaixonada proprietária.
Este texto contém análises e opiniões pessoais do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Mobiauto.
Leonardo França é formado em gestão de pessoas, tem pós-graduação em Comunicação Empresarial e Marketing Digital, e vive o jornalismo desde a adolescência. Atua há 18 anos com gestão e consultoria automotiva, auxiliando pessoas a comprar carros em ótimo estado e de maneira racional. É criador dos canais Autos Originais e Auto e Autos…
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