Como Jesse e Shurastey transformarão o significado de liberdade sobre rodas

Dupla se foi fazendo o que mais amava. Deixa como legado a inspiração para não adiar a busca de um sonho, e também lições sobre ter um carro antigo
JC
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26.05.2022 às 12:53 • Atualizado em 29.05.2024
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Dupla se foi fazendo o que mais amava. Deixa como legado a inspiração para não adiar a busca de um sonho, e também lições sobre ter um carro antigo

Por Antonio Frauches, do Podcast Perda Total

No início desta semana, Jesse Kozechen, de 29 anos, e Shurastey, um cão Golden retriever de seis anos, perderam a vida em um acidente quando viajavam para Portland, no estado de Oregon,  Estados Unidos. 

Jesse e Shurastey estavam a bordo de Dodongo, um VW Fusca 1300 1978,  com o qual percorreram cerca de 85.000 km, nos últimos cinco anos, enquanto conheciam 16  países, além do Brasil. 

Eu não tive o prazer de conhecê-los, mesmo assim a notícia da tragédia me abalou. Eu  estava em um avião, a caminho de Brasília, quando recebi a notícia em um grupo. Após o  pouso liguei meu telefone e tomei o baque. 

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A primeira pessoa quem avisei foi Francis Silva,  do canal de YouTube e Instagram A Nave (@anavecanal), que esteve com Jesse e Shurastey há alguns  dias, quando conheceram a ponte Golden Gate, em São Francisco, no Estado americano da Califórnia. 

Francis, que mora em São Francisco, relatou em sua página no Instagram que Jesse estava em êxtase  por estar ali, em um local considerado por ele como um dos marcos de sua viagem. 

Nós, do Perda Total, convidamos o Jesse para uma entrevista em nosso podcast. Durante  uma das lives que ele costumava fazer, comentei dizendo o quanto eu admirava seu estilo de vida e sua viagem, e o convidei. Ele gentilmente aceitou, entrei em contato por e-mail,  trocamos algumas poucas mensagens, mas infelizmente não avançamos no acerto da data.

Como sua rotina era atribulada, deixamos para retomar as conversas depois que chegassem  no Alasca, objetivo da viagem. 

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Jesse e Shurastey na Times Square 

A consciência de ter um carro antigo

A tragédia que interrompeu precoce e abruptamente a viagem de Jesse e Shurastey me  deixou com dois sentimentos. O primeiro é secundário, menos importante, mas é algo que  me preocupa. E digo isso não pelo que aconteceu com Jesse, nem por alguma análise sobre o Dodongo, seu Fusca. Digo por experiência própria. 

Eu tive um Fusca, foi meu carro de uso  diário por três anos, e hoje tenho outro, como já disse por aqui. Com certeza você já ouviu que os carros antigamente eram melhores, que batiam e não amassavam, que andavam mais, eram mais robustos etc. 

Certamente você já recebeu alguma foto de colisão entre um carro moderno e um antigo e, pelo tamanho do estrago, os peritos de plantão chegaram à conclusão acima. Enquanto essa discussão estiver na mesa do boteco, ou no grupo de WhatsApp, tudo bem. 

Mas quando alguém compra um Fusca ou  qualquer outro antigo, e o usa como se isso fosse verdade... Aí eu me preocupo. Afinal, é atraente: com R$ 15.000, você pode comprar um Fusca 1980 em bom estado. Se ele for muito melhor que um Fiat Mobi 2020, então... Que negócio! Recito como um poema.

Sempre que alguém me procura com essa ideia, recito que carros antigos não são melhores que os  modernos. E lembre-se de quem está falando com vocês! Eu adoro carros antigos, eu tenho carros antigos, mas meu registro no CREA (conselho de engenharia e agronomia) me obriga a falar essa verdade.

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Enfatizando: não estou aqui falando sobre o Fusca do Jesse, nem do seu modo de dirigir.  Pelo contrário: em todas as lives que assisti, o que pude perceber é que ele sabia o que estava fazendo. Andava na faixa da direita, na velocidade da via, distante do veículo à frente.

Jesse rodou mais de 80.000 km com seu Fusca, só isso prova que ele não era irresponsável, e que conhecia muito bem o veículo que ele mesmo precisou consertar diversas vezes.  

Segundo relatos de uma amiga de Jesse, que presenciou o acidente, ele não conseguiu frear  e, ao desviar de um carro parado, perdeu o controle. Isso pode acontecer com o mais bem  conservado dos Fuscas, a 60 km/h, com pneus bons e em pista seca. 

Por quê? Porque é um  Fusca, é um carro projetado na década de 1930. Basta um pequeno vazamento em um componente do freio, basta uma das rodas perder aderência por alguma razão, basta uma  pequena folga na direção. Por fim, basta um momento, uma distração, para que algo aconteça.

Meu objetivo não é desencorajar ninguém a ter veículos antigos, pelo contrário. Só quero  deixar bem claro o que é um veículo antigo, e o que você pode esperar do seu. Passear no fim de semana a bordo de um antigo é uma delícia. Viajar em um, mais ainda. 

É uma viagem  no tempo, você carrega consigo uma obra de arte que complementa qualquer paisagem, e  atrai muitos interessados.

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Dupla se foi fazendo o que mais amava. Deixa como legado a inspiração para não adiar a busca de um sonho, e também lições sobre ter um carro antigo
Jesse, Shurastey e Dodongo na desértica paisagem do Arizona 

A admiração pela busca imediata de um sonho

O segundo sentimento é mais importante, é o que marca: a admiração pelo legado de Jesse.  Sua coragem em mudar radicalmente sua vida e sair em busca de si mesmo, de sua  liberdade. Fazer algo que realmente traga felicidade, do modo mais simples possível.  Simplesmente pular do trem da rotina e desacelerar, olhar em volta. 

Todos nós temos essa  vontade, esse desejo oculto. Mas poucos têm essa coragem.  A alegria com a qual Jesse e Shurastey se apertavam no Fusca, conheciam locais como a Times Square e a Rota 66, e passavam seus perrengues foi o que contagiou mais de 400 mil seguidores. 

É impossível não sorrir assistindo a seus vídeos, seja mostrando como  ficaram presos com o Fusca na neve, ou com ambos cantando Sweet Dreams. Jesse nos mostrou que não precisamos de muito para sermos felizes, tudo o que precisamos é estar  em paz com nós mesmos. 

Jesse e Shurastey estão eternizados como patronos desse novo estilo de vida, onde  podemos nos desconectar, mas continuar conectados, para que possamos viajar em um  Fusca, carregando mais de 400 mil pessoas.

Valeu Jesse! Valeu Shurastey! Vocês nos levaram muito longe, agora levaremos vocês para  sempre! 

Antonio Frauches, engenheiro mecânico e entusiasta do mundo automotivo. 

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Imagens: Reprodução

Este texto contém análises e opiniões pessoais do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Mobiauto.

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